sexta-feira, 7 de maio de 2010

ARTIGO - Poemas e delírios

Juracema Barroso Camapum

O meu doce palco de versos, espalhados pela mesa, fazem parte de várias das minhas noites, não durmo muito, me dissolvo nesse prazer, nesse território de Estrelas que brilham em várias partes do mundo. Há poucos dias lendo o poeta Arménio Vieira, premiado com o Prêmio Camões 2009que vive em Cabo Verde, fiquei maravilhada com seus versos, até decorei um pedacinho de um que ele fala da fronteira com o mar: “Ilhas renascidas - nuvens libertas... Talvez um continente - À medida dos nossos desejos.” E por aí eu vou conhecendo poetas com suas realidades, elementos que se diferem no estilo, na técnica, na rima, na dor, na alegria.
É como se fosse um vício, vício que preenche algum vazio. Nessas horas não preciso dizer nada a ninguém, nem ouvir, apenas sentir e refletir. Todo o meu interior ganha leveza, sinto doçura em viver. São horas mágicas, intensificadas por um aceleramento cardíaco na medida da beleza do poema. Meus olhos percorrem tranquilamente todas as linhas, não há pressa, a concentração é intensa. Há versos que me tiram da cadeira, flutuo, e outros que não são tão belos, mas ninguém escreve tudo... Tudo ...Belo... Não sou tão pirada! Não desprezo um ponto, uma vírgula, tudo para o autor teve importância.
Safo de Lesbos suplica para a paixão subsistir ao tempo - “Possa para mim esta noite / durar duas noites”. Esse verso acho muito próximo de uma antiga Música Popular Brasileira (MPB), onde um casal apaixonado se reencontra e sabe que terá apenas uma noite para ficarem juntos. Desesperado, ele canta: “Porque não paras relógio / sei que vai amanhecer / detenha as horas relógio.” Chorei ao ouvir Ivanildo Saxfone de Ouro tocar essa música, na penumbra do Clube do Choro. Lendo Emily Dickinson, onde ela define “solidão”, o excesso de sensibilidade que existe na alma dos grandes poetas, me toca de uma maneira meio inexplicável, minha alegria espiritual é como uma embriaguez, um fluído que me causa dependência, ou a própria adrenalina... Não sei. Os belos versos é a luz que necessito, é minha aurora que me faz enxergar o amanhã. Não sou uma crítica da linguagem poética, nem tenho essa pretensão, eu só quero admirá-los, me nutrir deles.
Na minha terra natal, Uruaçu Goiás, já despontam poetas ganhado destaques nacional (o que me enche de orgulho): Ítalo Campos, com várias publicações, membro da Academia Espírito-santense de Letras; Itaney Campos; José Carlos Camapum Barroso; Mariano Peres; e, muitos outros que fundaram a Academia Uruaçuense de Letras (AUL). E há publicações de todos eles que merecem respeito e admiração, sendo o Ítalo Campos psicanalista, escritor e poeta com dedicação especial no mundo das letras.
Fazendo a 5ª Série ginasial, o professor de Língua Portuguesa, Cristovam Francisco de Ávila (doutor Cristovam), pai de Ítalo e Itaney, iniciava cada aula lendo um poema. Devo a ele, a partir daí, o meu interesse pela poesia, pela literatura, pela leitura de um modo geral. Iniciando com Machado Assis, Cecília Meireles, Jorge Amado, Gabriel García Márquez, Eça de Queirós e vários outros. Confessando que roubava emprestado da biblioteca do meu Tio Camapum. Trancada a estante de vidro, a chave ficava acima, no cantinho, retirando e repondo um de cada vez. Li muitos autores.
Essa abstração poética são os meus delírios, minhas viagens. Nasci para me nutrir de versos como o beija-flor do néctar das flores. Que meu cérebro nunca se sinta farto e que surja no mundo cada vez mais grandes poetas e que seus versos cheguem até as minhas mãos.

Juracema Barroso Camapum reside em Brasília-DF e é servidora pública. Postado em 07/05/10

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