sábado, 20 de fevereiro de 2010

OPINIÃO - ARTIGO

Desenvolvimento social e econômico exige ensino profissional qualificado

Joel de Sant’Anna Braga Filho

 

Foi no período colonial que teve início a evolução da profissionalização no Brasil. Nessa época aconteceu, portanto, a criação da Casa dos Educandos Artífices, que tinha como finalidade a assistência a crianças órfãs e abandonadas, que eram subordinadas a normas disciplinares bem rigorosas. Vários estados possuíam essa instituição. O primeiro a criá-la foi o Pará, isso em 1840. No ano posterior foi a vez do Maranhão criar a sua.

Nessa época havia também a preocupação de disseminar a língua portuguesa nas vilas do interior, leia-se aqui Amazonas, especificamente. Neste estado, a língua geral era o nheengatu: língua materna de parte da população cabocla do interior amazônico, que vem do tronco Tupi, da família Tupi-Guarani. Sem a disseminação da língua portuguesa, não haveria como a Casa dos Educandos Artífices obter êxito dentro do seu propósito de criação. E junto a isso outras instituições de ensino.

Essa preocupação quanto à língua consta em um relatório apresentado ao governo amazonense, cuja autoria é do professor, etnólogo e poeta Gonçalves Dias, o poeta ímpar do Romantismo brasileiro que cantou “Minha terra tem palmeiras / onde canta o sabiá.” No respectivo relatório está registrado o seguinte: “A vantagem da frequência das escolas estaria principalmente em se desabituarem da língua geral que falam sempre, em casa e nas ruas, e em toda parte. Se pouco demoram nas escolas, se têm essas longas interrupções de quatro meses e mais por ano, é claro que conservarão muitos erros de pronunciação e mesmo de linguagem, sem que isso deva reverter em desfavor do mestre.”

Na instituição do Amazonas, criada em 1858, às crianças indígenas e desvalidas eram ministradas várias atividades: iniciação à leitura e à escrita e treinamento em inúmeros ofícios manuais, como alfaiataria, sapataria, marcenaria entre outros. Os indiozinhos, que entravam para a Casa aos 12 anos, ganhavam nomes cristãos e tinham de usar uniformes. Essa idade de admissão tinha a ver com as atividades que exigissem maior capacidade física e mental das crianças. É importante mencionar outro problema social da época relacionado à criação das Casas dos Educandos Artífices: advindo a crise do sistema escravista, intensificou-se, então, a preocupação com o preparo dos trabalhadores.

Já em 1909, o então presidente brasileiro, Nilo Peçanha, criou 19 escolas de aprendizes artífices, uma em cada em Estado. No Decreto 7566/09, constava a finalidade das escolas: ajudar os “desfavorecidos de fortuna”, levando-os a “adquirir hábitos de trabalho profícuo” e assim afastar os educandos “da ociosidade, escola do vício e do crime”.

Nossa realidade hoje é, portanto, outra bem diferente. Com advento da globalização, faz-se necessária a adoção de novos modelos de produção industrial. Diferentemente do que ocorria anteriormente, a educação profissional que se ministra hoje tem dois focos: o econômico e o social. E essa educação profissional, vale dizer, tem de se amoldar-se aos imperativos da nova ordem econômica. Sem isso, é malhar em ferro frio.

Goiás tem muito o que comemorar neste sentido. Em 2009 foram ministrados cursos a 35 mil jovens, quantidade esta que é o triplo dos atendidos em 2008. Para este ano, o governo Alcides tem como meta chegar a 70 mil jovens atendidos.

Na semana passada, estivemos com a ministra da Casa Civil. Procuramos a ministra no sentido de obter a liberação de 26 milhões. Esse recurso está relacionado ao programa Brasil Profissionalizado. Há também a liberação de mais R$ 5.5 milhões destinados ao ETEC Brasil, do ensino a distância, que vai atender 40 municípios. Outra notícia boa para Goiás: a liberação de uma emenda de bancada no valor de R$ 13.334 milhões para implantação de CVTs, que são pequenas escolas técnicas. Isso vai representar mais formação profissional a milhares de jovens goianos e consequentemente gerar-lhes um padrão de vida cidadã. Vale dizer também: dar-lhes um rumo “profícuo” na vida para que o mundo da marginalidade não os seduza e os tire do caminho saudável da cidadania.

Nessa luta pela materialização da cidadania, o gestor público não pode se agarrar à bandeira partidária e assim não estabelecer parcerias com partidos adversários do seu. Deve, sim, se agarrar à bandeira do povo, que exige (e merece) a geração de emprego, mais segurança, mais educação. E tais benefícios muitas vezes exigem parcerias governamentais. É isso que aponta o bom senso.

Joel de Sant’Anna Braga Filho reside em Goiânia e é secretário estadual de Ciência e Tecnologia em Goiás; odontólogo; e, membro da Academia Goianiense de Letras (http://www.twitter.com/joelsantanna_). Transcrito, sem adaptações, do jornal Diário da Manhã (Goiânia-GO), desta data. Postado em 19/02/10

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