Como vai o ‘marketing’, candidato?
Este Editorial aborda o marketing político na campanha eleitoral. Um religioso de prestígio grande da região Norte goiana dizia nos anos 1990 que não entraria na política com receio de virar picareta. Em determinadas ocasiões que reunia vários políticos, o então senador goiano Demóstenes Torres brincava: “Isso aqui tá igual o Butantan. Só tem ‘cobras’”, se referindo ao famoso Instituto localizado na capital São Paulo e um dos maiores centros de pesquisa biomédica do mundo, responsável por mais de 93 por cento do total de soros e vacinas produzidas no Brasil. Existe um ditado: ‘A dificuldade faz o sapo pular’. Já Maquiavel cravou: “Os fins justificam os meios.”
Adolpho Queiroz, organizador da obra Na arena do marketing político: ideologia e propaganda nas campanhas presidenciais brasileiras, diz que seu livro, lançado em 2006 pela paulistana Summus Editorial, ‘foi desenvolvido em torno de dois grandes eixos: a discussão teórica sobre a utilização do ‘marketing’ político; e as estratégias comunicacionais de campanhas presidenciais brasileiras no período republicano.’. O prefácio ficou por conta de Gaudêncio Torquato, professor, jornalista e consultor de comunicação. Para Torquato, o marketing é um fenômeno e, narra que o ‘marketing é um sistema-meio, com regras e métodos próprios de produção, e, como tal, se propõe servir à esfera mais ampla que o abriga, no caso, a esfera maior, o próprio sistema político. Ainda: o marketing não se restringe ao eixo da comunicação, como se tem feito entender no país. Abriga, além de vasta rede de comunicação, outros vetores como a pesquisa, o discurso, a articulação social e política e a mobilização das massas. Com esse escopo, o marketing político expressa um conjunto de formas e meios de operar a política, mudando seu modus operandi no tempo e no espaço. O marketing político é ciência, arte e técnica que se alimentam dos climas sociais, das identidades de atores principais e secundários, da geografia ambiental, do clima das circunstâncias, do sistema normativo, e, por consequência, é um espelho que projeta a imagem da própria cultura política.’.
Nesse sentido, assinala ele, ‘a leitura de abordagens, perfis, nuanças, eventos e estratégias de marketing político aponta para alguns ciclos políticos por que tem passado o país. Se há, porém, vetores imutáveis e intransferíveis nas etapas históricas do marketing desenvolvido entre nós, certamente incluem-se entre eles a improvisação, a intuição, a relatividade. Somos uma civilização dos Trópicos e, assim, acolhedora de uma maneira de ser identificada com vícios e mazelas provenientes do primeiro estágio civilizador. Quem não esbarra, todos os dias, com a (s) linguagem/atitudes do patrimonialismo autoritário (“você sabe com quem está falando?”), do corporativismo, da criatividade/sinuosidade (“jeitinho” brasileiro), da desorganização, do fingimento, cacoetes culturais que uma cultura anglo-saxã jamais admitiria? O Brasil, dentro dessa configuração, pode dizer que tem especificidades bem interessantes. Diz-se, até, que dos quatro tipos de sociedade que se conhecem, nosso país é uma delas: a inglesa, a mais civilizada, que permite tudo, com exceção do que é proibido; a alemã, em que tudo é proibido, salvo o que é permitido; a totalitária, em que tudo é proibido, mesmo aquilo que é permitido; e a brasileira, em que tudo é permitido, inclusive o que é proibido.’.
E: ‘Convivemos com um estado de anomia e desorganização, desvios que se transferem para os mecanismos de operação da política. Por isso, as atividades de marketing, entre nós, são eivadas de desconfiança. Vende-se, frequentemente, gato por lebre. Não por acaso, profissionais do marketing contemporâneo estão no olho do furacão que devasta as imagens dos sistemas político e governamental. É evidente que a modernização acarreta mudanças na ação e nas atitudes políticas. Já não podemos contar com a matreirice das velhas raposas políticas, que ditavam costumes e moda. Ontem, víamos um fingimento com certo traço de vivacidade, brincadeira, compadrio, alegria e festa. A expressão manhosa dos grandes mestres da política fez história.’.
No livro Assessoria de Imprensa: como fazer, de 2003 e da mesma editora, Rivaldo Chinem salienta nos tempos da ditadura brasileira ‘o presidente, general de quatro estrelas, nunca falava, só mandava recados aos cidadãos utilizando a figura do porta-voz.’ Mais: ‘Era outra época. Adotava-se a chamada política do caramujo, que se esconde no casco, ou dizia-se que o pessoal agia como avestruz: procurava esconder a cabeça para não ver os problemas, e a partir daí imagine então, leitor, o que isso podia significar.’.
‘Os grandes pilotos não vencem todos os grandes prêmios, mas disputam todas as provas como se pudessem vencê-las e procuram marcar pontos até nas corridas perdidas’, escreveu Franklin Martins no livraço Jornalismo político, de 2005, da editora Contexto, de São Paulo, maior cidade do Brasil e onde um prefeitável, José Serra (PSDB), entrou no pleito deste ano praticamente se considerando eleito e, hoje passa por dificuldade grande.
Interesse público é uma coisa. Interesse do público é outra coisa. Valendo para os 5.568 Municípios onde têm disputas eleitorais agora: o seu candidato, especialmente na seara dos candidatos a prefeito, se enquadra em algo aqui destacado?
Nota da Redação: Editorial da edição 146 do Jornal Cidade (Uruaçu), de 1º a 15/09/12 Uruaçu 23/09/12 - (Da Editoria-chefe)