sexta-feira, 23 de outubro de 2009

EDITORIAL (Jornal Cidade/Uruaçu-GO - www.jotacidade.com, edição 93) - 23/10/09

Quanto vale a vida


Existe muita preocupação com o meio ambiente, mas são poucos os que sabem verdadeiramente o que é, para que serve e onde está. Para a maior parte das pessoas o meio ambiente é algo que está “lá”. Esse lá é sempre alguma coisa que está longe, no meio do mato, no lago, nos rios, enfim, em algum lugar que os olhos não estão vendo. As pessoas acreditam que o meio ambiente que está “lá” afeta os que estão aqui: quando o meio ambiente “lá” está bom aqui está bom; quando o meio ambiente “lá” está ruim aqui está ruim. Aí aparecem os culpados pela degradação do meio ambiente lá e aparecem também as cobranças para que as autoridades cuidem do meio ambiente e punam os “culpados”.
Acontece que os culpados são tantos, tantos e tantos que a punição deles seria mais fácil se o nome do planeta fosse trocado para Planeta Cadeia. São uns seis bilhões de culpados cometendo crimes ambientais a cada segundo das 24 horas do dia: alguns desmatando, outros despejando poluição nos rios, muitos queimando combustível fóssil e a maior parte jogando lixo no chão. As pessoas estão sempre fazendo coisas que não fariam dentro das próprias casas, e pensam que tudo estará bem se não for feito dentro de casa.
Cuidar da própria casa é cuidar do meio ambiente do qual esperamos limpeza, conforto, enfim, esperamos que seja agradável. No entanto, é dentro de casa que recebemos as lições de como cuidar do meio ambiente: pode deixar a cama desarrumada que mamãe arruma; pode jogar lixo no chão que mamãe varre; pode deixar as coisas espalhadas que mamãe manda a irmã guardar; pode jogar restos de comida no lixo que papai cuida de amarrar a boca do saco para não feder. Pode, pode, pode, e tem sempre alguém que é eleito como o responsável pela saúde ambiental da casa. Com o que aprendemos em casa vamos para a rua e fazemos a mesma coisa, sempre reclamando que a Prefeitura não recolhe direito o lixo que amontoamos na porta da casa; não varre direito o lixo que jogamos nas ruas; não cuida das praças que destruímos, enfim, não faz corretamente o papel de papai, mamãe e irmã. O que fazemos em casa fazemos na rua e as escolas não ensinam a fazer melhor em casa, na rua, ou nela mesma, e então, está formada a cadeia perversa: lixo no chão, chuva no chão, lixo na enxurrada, enxurrada nos córregos, lixo nos córregos, córrego no lago, lixo no lago.
São dois tipos básicos de lixo no lago: os que não se decompõe e os que se decompõem. Os que se decompõem produzem a eutrofização, que é o estado da água no qual as bactérias indesejáveis e as plantas invasoras crescem, crescem e crescem. Crescem e tomam conta da água, afastando os peixes e iniciando um processo que atrapalha a pesca, o lazer, a navegação, e termina com a podridão.
É quando vamos “lá” que enxergamos o tamanho do estrago, mas não pensamos que somos nós que estamos estragando e que começamos a estragar de dentro das nossas casas, continuamos estragando quando estamos na rua, e terminamos de estragar quando jogamos lixo diretamente no lago, mas pensamos que a Prefeitura deveria limpar mais, que as ONGs deveriam fazer mutirões de limpeza, que o governo federal deveria mandar verba para cuidar do lago, enfim, que todos os outros são responsáveis, mas nós não. Nós não porque pagamos impostos para que cuidem disso, ou seja, pagamos cada vez mais impostos para que cuidem cada vez mais da sujeira que fazemos, mas isto não é inteligente porque o contrário parece ser bem melhor: pagar menos impostos e ter coisas mais agradáveis ao nosso redor simplesmente parando de jogar lixo no chão. É algo que a Prefeitura, via escolas, pode conseguir a custo quase zero: educar pra que as crianças aprendam a parar de jogar lixo no chão, cuidar melhor das próprias coisas e das coisas públicas, e a respeitarem a si mesmas criando um meio ambiente limpo para viverem.


Postagem (com ajustes técnicos): 23/10/09

Um comentário:

Saulo Prado disse...

Parabéns pelo seu trabalho aqui...