De tão importante que é todo o conteúdo aqui constante, a Editoria-chefe deste periódico optou por inseri-lo no Editorial da edição impressa 114, nesta postagem e no Blog do Jornal Cidade.
Leia abaixo:
Poder - Graça, desgraça, perversão
Relembra-se aqui o jargão: ‘A embriaguez do político é igual ao pileque do sucesso. O poder muda a cabeça das pessoas, o modo de ser, a maneira de agir. Os verdadeiros amigos ou aliados, logo esquecidos, serão substituídos pelos oportunistas e os bajuladores. O poder faz o político esquecer que o poder é fugaz. Que o ostracismo, oculto na próxima Eleição, estará à espera dele atrás da esquina. Maior e mais duradoura do que a embriaguez do poder, porém, é a ressaca após da queda do poder.’
Atrativo do caderno Magazine, do jornal O Popular, de Goiânia, a coluna Crônicas & Outras Histórias apresentou em 12 de março, o texto A loucura do poder, de Brasigóis Felício.
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A loucura do poder
“O poder é a perversão da potência”. (Erich From). Fundada no medo e no desespero, a pulsão para o poder potencializa a impotência em terríveis pesadelos, conflitos, constrangimentos. Erich From explica, em sua obra O Medo à Liberdade, que “a impotência, aplicando-se o termo a todas as esferas das potencialidades humanas, produz o impulso sádico da dominação. Na medida em que o indivíduo é potente, isto é, apto a realizar as suas potencialidades com base na liberdade e integridade do seu eu, ele não precisa dominar nem tem sede de poder”.
Alguém tão pervertido que veja-se possuído pela síndrome de poder, julga e condena a tudo e a todos, e a sua força é a sua pena. Ser sempre a palavra sensata, o voto de Minerva, a sentença inapelável, a espada que mata. Os que buscam manter poder sobre os outros são homens sem rosto, e sua perversão totalitária os leva as multiplicar os padrões de sofrimento. Pessoas obcecadas pela conquista ou manutenção do poder (em todos os níveis, desde a esfera do poder político, até o ambiente de familiar) são mais merecedoras de compaixão ou piedade do que os mendigos que nas ruas vertiginosas das cidades imploram por caridade.
O ser nossa ilusão vê como bafejados de carisma tornaram-se carismáticos por não terem aprendido a dar e oferecer carícias. O poder neles vemos (o de ser sempre o foco do olhar das massas) resulta no vampirismo que exercem, no sentido de evaporar e tomar para si a aura das multidões. Atribuímos carisma ou fascínio a quem detém o poder de ser rico, ou ser belo ou jovem, na ilusão de que poderão nos devolver, em troca de nosso afeto anônimo, ao menos pálidos lampejos de sua riqueza, de sua beleza ou de sua juventude. Idealizamos as pessoas por nos ser impossível viver sem ídolos em carne e osso, depois que os deuses foram despejados do Olimpo. Identificamo-nos com nossos deuses e heróis como se eles fossem os deuses em quem, em nossos tempos racionalistas e pragmáticos, já não podemos acreditar.
P.S. Talvez a arte de ser feliz seja simples (e tão somente) não se importar. Se não nos importarmos, tudo passa, como nada ficará do que haverá de passar. Piorar talvez cegar ao fim do desespero, e o começo da cura. A pior loucura seria não piorar nunca. A total loucura talvez seja reinventar a arquitetura do caos, para enfim encontrar o cosmo em nós.
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