sábado, 13 de março de 2010

Goiás é destaque nacional pela produção de grãos, carnes, leite... E leite





João de Lima é colhedor e trabalha dentro dos 45 hectares de
produção de uvas em Santa Helena
de Goiás


Governador Alcides Rodrigues e secretário de Ciência e Tecnologia
Joel Sant’Anna em visita ao Centro Tecnológico Luiz Humberto de Menezes

 
Produtor Danilo Razia (esq.), o engenheiro agrônomo Ricardo Assunção e
o empresário Cirley Antonio mostram kit parreira para plantação
de uva, vendido durante a Festa

Nos últimos dez anos o Governo de Goiás, em parceria com os produtores rurais, vem desenvolvendo técnicas compatíveis ao solo goiano e ao clima tropical para o cultivo de uva no cerrado. A cultura já ocupa posição de destaque nos Municípios de Itaberaí, Santa Helena de Goiás, Paraúna, Hidrolândia, Inhumas, Itapuranga, Aragoiânia, Planaltina e Jataí. Segundo o presidente da Comissão de Fruticultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Dirceu Cortez, o cultivo da uva em Goiás vai crescer em altas proporções, com potencial para criar um grande mercado de sucos e de vinhos.
Goiás já tem cerca de 500 hectares em uvas plantadas, com uma produção de aproximadamente 15 mil toneladas por ano, ou seja, por volta de 30 toneladas por hectare, percentual que está acima da média nacional, de 20 toneladas por hectare. Ao todo, existem hoje em Goiás, 250 produtores em 30 Municípios. Produtores de outros 56 estão aptos a iniciarem o cultivo de uva.
Perto do volume nacional, que é de 1,2 milhão de toneladas em 90 mil hectares, a produção goiana ainda é acanhada, mas o futuro da vitivinicultura no Estado é promissor. “Pelo que estamos percebendo, logo haverá um boom de produção. Além das cidades que já plantam, outras como Alexânia, Corumbá de Goiás, Pirenópolis e Cristalina estão entrando no páreo também”, explica Dirceu.

Formação
O Governo de Goiás, por meio da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia (Sectec), da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seagro), e, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) - Regional Goiás, estão investindo na formação de profissionais para o manejo de uva.
A Seagro e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) programaram um curso de capacitação em vitivinicultura em Bento Gonçalves-RS, com duração de uma semana e concluído dia 10 de março, sob promoção do Centro Tecnológico Luiz Humberto de Menezes.
Antes da partida para Bento Gonçalves, o governador Alcides Rodrigues (PP) e o secretário estadual de Ciência e Tecnologia em Goiás, Joel de Sant’Anna Braga Filho, se reuniram, dia 5 de março, com os alunos participantes. Eles participaram do IV módulo do curso, realizado na Embrapa Uva e Vinho.
A Seagro montou uma turma de 38 alunos, entre eles 12 técnicos da própria Pasta Estadual, que vão atuar como multiplicadores em Goiás da tecnologia utilizada pela Embrapa no plantio de uva. “Vamos adaptar técnicas utilizadas no Sul sobre o controle de qualidade e o espaçamento para separarmos as variedades”, destaca Weider Ribeiro, técnico do órgão estadual em Santa Helena de Goiás.
Segundo a coordenadora do curso, Márcia Nara Silva, a expectativa é de que este seja o primeiro passo de uma grande jornada produtiva. “O que temos de fazer é preparar uma característica própria de vinhos produzidos no cerrado goiano. Isso vai acontecer com um melhoramento genético, de seleção de mudas e de experimentação de várias safras, fazendo avaliações e seguindo os melhores resultado”, afirma.
Na opinião do gestor público da Sectec, João Marcos Bertoldi, o solo goiano, do ponto de vista da produção de suco e do próprio cultivo da uva, é altamente produtivo. Para a produção de vinho, diz Bertoldi, isso vai depender da variedade escolhida. “Por isso mesmo o curso é muito importante”, avalia.
Bertoldi pondera que, com as inovações tecnológicas, a uva pode ser cultivada em qualquer lugar. Mas é preciso saber cultivar. “Uma de nossas preocupações é a de fazer transferência de tecnologia, justamente para que todos os produtores interessados estejam ao alcance desse conhecimento.”
O Governo de Goiás, como o objetivo de consolidar a cultura e a industrialização da uva no Estado, inaugurou no ano passado o Centro Tecnológico de Vitivinicultura, que recebeu R$1 millhão em investimentos. No Centro é formada mão-de-obra e pesquisadas técnicas de enxertia, de limpeza e cuidados de proteção contra pragas.

'Festa da Uva'
A Festa da Uva de Goiás chega à sua terceira edição este ano e, será realizada no segundo semestre, no Município de Itaberaí. O evento retrata a evolução da vitivinicultura em Goiás. A estimativa é de um público superior a 50 mil pessoas. Durante o evento são ministradas palestras, cursos e promovidas visitas a parreirais e vinícolas, além de exposições de máquinas e equipamentos.
A segunda edição da Festa da Uva foi realizada em Santa Helena de Goiás, localidade considerada a maior vitrine da vitivinicultura no Centro-Oeste brasileiro.
Mais abaixo, artigo de Joel de Sant’Anna Braga Filho, sobre o tema.


Renato Araújo Ramos, produtor de uvas, mostra um dos produtos
comercializados - sucos e vinhos -, durante a Festa da Uva em 2009


Alcides Rodrigues e Joel de Sant’Anna Braga Filho, quando da
partida do grupo para Bento Gonçalves (Fotos: Marcello Dantas Jr./Sectec)

Opinião - Artigo, de agosto de 2009
Nossas uvas estão maduras
Joel de Sant’Anna Braga Filho

Como bem disse Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, na carta enviada a Dom Manuel, rei de Portugal, “Nesta terra tudo que se planta dá“. Muito acertada essa afirmação, afinal o Brasil possui clima favorável e solo fértil a inúmeras culturas. E junto a isso, sobretudo observando o momento atual, temos a ferramenta valiosíssima chamada tecnologia.
Antigamente achava-se que o Brasil não conseguiria produzir azeite de oliva. Isso, portanto caiu por terra, e a legitimação desse acontecimento está no Sul de Minas Gerais, mais precisamente no município de Maria da Fé. Esse fato só foi possível graças ao trabalho de técnicos da Empresa de Pesquisas Agropecuárias de Minas Gerais, que desenvolveram mudas compatíveis com a região. Mudas estas só possíveis com a ferramenta tecnologia.
Falar em plantação de uvas em estados fora da região Sul também era coisa impossível alguns anos atrás. O pensamento de então era que a viticultura só era possível em estados com temperatura fria. No entanto, as regiões Nordeste e Norte hoje também estão páreo, apesar de praticamente produzirem apenas uvas de mesa, enquanto as do Sul são destinadas essencialmente à produção de vinho. Mas antes do Nordeste e Norte, o Sudeste já vinha colaborando com a sua parcela na produção de uvas.
E agora também entrou no mercado a Região Centro-Oeste, apesar de ser um fato ainda tímido, mas que aos poucos vai se tornar considerável, graças a fatores como aprimoramentos tecnológicos e a parcerias amadurecidas entre a Embrapa Uva e Vinho, a Secretaria de Ciência e Tecnologia, FAEG, SEAGRO,SEBRAE, UFG, prefeituras de Itaberaí, Santa Helena e Paraúna. Vale registrar também algo de destaque, que é o mercado brasileiro hoje estar entre os que possuem maior potencial de crescimento. Enquanto o mercado europeu consome cerca de 60 litros de vinho por ano, o brasileiro consome em média 2 litros.
Já conseguimos superar o primeiro grande desafio para a vitinicultura em Goiás. Outro estágio a ser superado é com relação à produção e industrialização em escala, com a agregação de conhecimento e tecnologia para o desenvolvimento da atividade. Em nossa parceria com Embrapa, implantamos a APL da Vitinicultura Luiz Humberto de Menezes. E em meio a isso, a criação do Centro Tecnológico de Vitivinicultura de Goiás, no município de Santa Helena, que promoverá ações integradas no âmbito de vitivinicultura entre o respectivo município e regiões adjacentes. O Centro Tecnológico terá como foco principal a sistematização de conhecimentos técnico-científicos voltados à vitivinicultura. Isso cumprirá, portanto, um importante papel no processo coletivo de acesso ao conhecimento, organização do capital social, consolidação e fortalecimento da cadeia produtiva da vitivinicultura, capitaneada pela região de Santa Helena. Vale, pois registrar que em nosso estado já contamos com uma entidade representando o setor, que é a Apudernec - Associação dos Produtores de Uva e Derivados da Região Noroeste do Estado de Goiás -, que já congrega 110 associados divididos em 18 municípios. Neste ano, a cidade Santa Helena sediou a 2ª Festa da Uva de Goiás. A primeira aconteceu em Itaberaí. Ano que vem teremos a terceira e assim sucessivamente, haja vista que a cultura da uva em Goiás, iniciada na década de 90, tem atraído cada vez mais o interesse de grandes e pequenos proprietários rurais.
Lógico que o vinho produzido em Goiás não é o mesmo que se produz em estados onde o clima é temperado. Mas é justamente nesse aspecto que reside o nosso diferencial. Se fosse o mesmo, estaríamos desarmados no mercado. Temos também outro aspecto em nosso favor, que é não recorrer a inúmeras pulverizações contra pragas, devido condições de nossa baixa umidade. Isso representará menores custos de produção, também concorre para a qualidade da produção e de se produzir uvas orgânicas em grande escala. Os esforços em capacitação de todos os envolvidos na produção vitivinícula é fundamental para se estabelecer um padrão de excelência no que se refere à qualidade dos nossos produtos. Ao contrário de outras frutas, a uva absorve muito das características do ambiente. E é justamente nessa atipicidade que está o nosso trunfo mercadológico. É, pois nessa particularidade que está o elemento engrandecedor do vinho. Não teríamos a nossa fatia no mercado se entrássemos no mundo do vinho com algo que já existe.
E por depoimentos da nossa 2ª Festa, estamos começando bem. A prefeita de Santa Helena, Raquel Rodrigues, recebeu elogios de que sua festa já era maior e melhor organizada que outras mais antigas no Brasil. Isto mostra o potencial que o Estado tem ao desenvolver a cultura da uva. No primeiro dia da festa esgotou-se todo o vinho goiano à venda, com um público superior a 15 mil pessoas. O secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do Ministério de Ciência e Tecnologia, Joe Valle, também reafirmou a competência do Governo goiano. Recebemos o presidente da Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves, Lucas Garrido, que declarou a toda a imprensa da satisfação do que presenciou em Santa Helena: “profissionalismo e organização da Festa da Uva e das instalações do Centro Tecnológico”. Isto nos dá a certeza de que estamos no caminho certo e que estamos apenas começando o desafio.
Agora é investir na formação de recursos humanos para alavancarmos a cultura da uva, que em apenas 1 hectare gera 50 toneladas por ano através de 2 safras, gerando empregos e renda aos municípios goianos.
Cabe neste artigo mencionar algo relacionado à fábula A raposa e a uva, de Esopo. Por não ter conseguido pegar as uvas maduras penduradas nas grades de uma viçosa videira para saciar sua forme, a raposa, não aceitando as suas próprias limitações, resolveu achar que as uvas estavam estragadas e não maduras como ela supunha. Já conosco, a situação é diferente. Não temos por que dizer, em nossa implantação da cultura da uva, as uvas estão estragadas. Estão maduras e já estamos produzindo bons vinhos, que logo, logo entrarão no gosto do consumidor brasileiro, que aos poucos está aprendendo a apreciar vinhos, e também do consumidor estrangeiro.

Joel de Sant’Anna Braga Filho reside em Goiânia e é secretário estadual de Ciência e Tecnologia em Goiás; odontólogo; e, membro da Academia Goianiense de Letras (http://www.twitter.com/joelsantanna_). Publicação original: agosto de 2009 

Uruaçu 13/03/10 - (Agência Goiana de Comunicação - AGECOM (GDI) [Goiânia-GO], de 12/03/10)

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