segunda-feira, 29 de março de 2010

OPINIÃO - Artigo


Seguro sob medida

 

Armando Vergílio

 

Os brasileiros que pretendem investir em seguro de vida para garantir a tranquilidade e a segurança de suas famílias podem comemorar uma boa notícia. É que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) aprovou a primeira tábua atuarial genuinamente brasileira, desenvolvida com base no histórico de mortalidade e sobrevivência dos participantes dos segmentos de seguros de pessoas e de previdência complementar no País.

A nova tábua, denominada Experiência do Mercado Segurador Brasileiro (BR-EMS), foi desenvolvida ao longo dos últimos dois anos pelo Departamento de Matemática Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) sob a coordenação da Comissão Atuarial da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). O instrumento trará novos parâmetros para o cálculo dos seguros de vida, modelagem dos planos de previdência e gestão das reservas administradas pelas seguradoras.

A tábua foi construída a partir da consolidação dos dados referentes aos anos de 2004, 2005 e 2006, fornecidos por 23 seguradoras, que respondem por 95 por cento do mercado brasileiro de vida e previdência complementar. No trabalho, que contemplou variantes de coberturas de sobrevivência e mortalidade, foram analisados o histórico de 32 milhões de CPFs, 19 milhões do sexo masculino e 13 milhões do sexo feminino.

Trata-se não apenas de um grande avanço, mas de um fato histórico para o Seguro de Pessoas e Previdência Complementar Aberta, pois com a regulamentação da nova tábua, o Brasil passará a lidar com suas próprias especificidades e características. Pela primeira vez em sua história, o País vai dispor de uma tábua que contará com atualização permanente e periódica das estatísticas, o que a torna capaz de refletir com exatidão, a qualquer tempo, as probabilidades de sobrevivência e de morte da carteira de clientes.

Além de permitir a utilização de estatísticas mais fidedignas, a nova tábua também contribuirá, de forma significativa, para a redução do impacto financeiro causado pela longevidade da carteira nos planos previdenciários. Consideramos esse projeto um grande avanço para o crescimento sustentável do segmento de pessoas, e que vai colaborar para que a indústria de previdência atue com maior eficiência.

Antes, as seguradoras dispunham apenas de tábuas atuariais produzidas nos EUA, muitas delas atualizadas somente até o ano 2000. Agora, é possível dimensionar os riscos específicos do mercado local de forma mais acurada, o que ajudará no desenvolvimento da indústria e na inserção de um maior número de brasileiros nas carteiras de vida e previdência.

O novo padrão atuarial também traz novidades importantes para as seguradoras e os consumidores. Uma delas é que as taxas de mortalidade para os homens acima de 40 anos apresentadas na nova tábua são menores que as encontradas nas tábuas estrangeiras de referência utilizadas pelo mercado até agora, o que deve gerar redução nos custos das apólices de seguros de vida para consumidores acima desta faixa etária.

A nova tábua atuarial brasileira também mostra que há um grande distanciamento entre a expectativa de vida da média da população brasileira, apurada pelo IBGE, e aquela registrada entre os brasileiros participantes de planos de previdência. Segundo dados do IBGE a expectativa média de vida dos brasileiros do sexo masculino é de 69,1 anos. Entre os consumidores de planos de previdência, a nova tábua aponta que a idade sobe para 81,9 anos, consolidando uma diferença de exatos 12,8 anos. Algumas explicações para essa diferença são o maior poder aquisitivo e grau de instrução dos consumidores de previdência frente à média da população.

Entre as mulheres ocorre o mesmo fenômeno. A expectativa de vida das participantes de planos de previdência é de 87,2 anos. Entre as brasileiras, o número cai para 76,7 anos, uma diferença 10,5 anos. Com essas informações, o mercado ganha uma ferramenta poderosa para a criação de produtos adequados à realidade brasileira.

Hoje, no Brasil, temos 18 milhões de participantes no sistema de previdência privada, sendo que as reservas do setor somam R$176 bilhões em ativos. O segmento de seguros de vida também é extremamente expressivo, pois somente em 2009 movimentou cerca de R$13,7 bilhões em prêmios. Levando-se em conta esses números, é possível ter uma ideia da quantidade de brasileiros que poderão ser diretamente beneficiados com a nova tábua. São milhares de cidadãos que poderão ter seguros e planos de previdência sob medida para seus bolsos, necessidades e realidades.

 

Armando Vergílio é superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep)

 

Postado em 28/03/10

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