sábado, 23 de abril de 2016

Carta aberta à população de Uruaçu e da região


Carta aberta à população de Uruaçu e da região

Padre Crésio Rodrigues da Silva
 

Fiquei surpreso ao ouvir o áudio de uma vereadora denegrindo a imagem da Igreja Católica e de outras religiões na tribuna da Câmara de Uruaçu. O fato me oportuniza fornecer aos interessados algumas informações objetivas e, neste caso, desmentir a referida vereadora que se mostrou ignorante na matéria e irreverente com pessoas que ela não conhece ao generalizar sua afirmação.
A Igreja não é detentora dos maiores estupradores do Brasil como esta senhora afirma. Trata-se de uma frase tola, sem embasamento nos fatos, contra os dados estatísticos e, portanto, falaciosa.
Estatísticas recentes, feitas pela imprensa, na Itália constataram 0,3% do clero com denúncia de pedofilia (fonte: site gloria.tv). Na Alemanha foi ainda menos que 0,2% (fonte: Rodrigues, João Augusto – jornal O Liberal – Belém, Pedófilos, quem?). Nos Estados Unidos, as estatísticas possuem mais credibilidade e, os estudos de Philip Jenkins comprovaram que “a presença de pedófilos é – de acordo com as denominações –, de duas a dez vezes mais alta entre os pastores protestantes do que entre os padres católicos”. E que em 42 anos, “as condenações (de sacerdotes) foram 54, pouco mais de uma por ano. O número de condenações penais de sacerdotes e religiosos em outros países é semelhante ao dos EUA” (texto de Máximo Introvigne, diretor do The Center for Studies on New Religions, publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos e pelo jornal Avvenire, 18/03/2010).
Sobre o Brasil? A vereadora não conhece os dados estatísticos e se deixou levar seja pela propaganda anticatólica ou pelo desejo fortuito de manchar a honra de pessoas honestas. Os estudos registrados em nosso país reservam os primeiros lugares de pedofilia para muitas outras instituições antes de mencionar a Igreja Católica. Isto se lê no Relatório Final da Comissão Parlamentar de Inquérito de São Paulo, página 27, ao registrar que 75% dos casos de pedofilia fazem parte do núcleo familiar, sendo que o pai e o padrasto estão no topo da lista. Esta CPI registra um caso envolvendo políticos e outras autoridades de Niquelândia-GO (página 1.027).
O site noticias.gospelmais.com.br/casos-pedofilia afirma: “Aqui tem havido no noticiário da internet muito mais casos de pastores pedófilos que de seus colegas padres, sem que a grande imprensa dê conta disto”. E, no Jornal O Liberal, de Belém: “De qualquer forma, muito maior que o envolvimento de líderes religiosos (católicos ou protestantes) é, por exemplo, o de professores de ginástica e treinadores de equipes esportivas juvenis” (Fonte: Rodrigues, João Augusto, supracitado).
A Igreja Católica é sistematicamente contra o desrespeito a qualquer pessoa, seja qual for sua idade, cada ser humano é precioso e inalienável porque resgatado pelo sacrifício de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Segundo o Relatório Final da CPI nacional sobre pedofilia, o Padre Frederico Lombardi (porta voz do Vaticano) informou que haviam sacerdotes brasileiros suspeitos de molestar crianças, os quais estariam sendo investigados pela cúpula da Igreja... Entre os bispos que informaram a CPI sobre sacerdotes suspeitos de pedofilia, está o de Penedo-AL, dom Valério Breda (página 1.488).
Emblema de sacerdote combatente da pedofilia, cito dom José Luiz Azcona, bispo ameaçado na ilha do Marajó por defender as crianças contra pederastas políticos de alto escalão e outras autoridades públicas (Relatório Final da CPI, página 1.084ss).
A oradora não conhece as normas de “tolerância zero” adotadas pelo papa Bento XVI e reafirmadas pelo papa Francisco para ministros da Igreja Católica que se envolvem em casos de pedofilia. O rigor disciplinar adotado nos últimos anos pode ser lido em português sob o título latino Normae de gravioribus delictis, de 21 de maio de 2010.
O papa Francisco reforçou o processo disciplinar do clero, através da Pontifícia Comissão para a tutela dos menores. Em carta aos bispos do mundo inteiro, o papa reafirma: “Não há lugar algum no ministério para aqueles que abusam de menores” (Vaticano, 2 de fevereiro de 2015).
A Igreja não permite que um sacerdote tire a honra de crianças; o que vem ocorrendo quando, há comprovação de casos, é o afastamento sistemático de sacerdotes no exercício da função bem como a não obstrução de informações para que a as autoridades civis atuem em sua competência (Relatório da CPI, página 1.089ss e 1.495).
Não deveria haver nenhum caso de pederastia entre padres porque isto é vergonhoso, criminoso e pecaminoso. Contudo é preciso saber que os sacerdotes católicos envolvidos nisto são quantitativamente poucos comparado aos casos em outras instituições. Como a Igreja é alvo dos ataques demoníacos, é ela que é posta em foco.
Por fim, um juízo de valor sobre a referida locução que me chegou por áudio ontem (22/04/2016).
É desolador quando um parlamentar do município ou da nação nivela por baixo os assuntos de grande responsabilidade que deve tratar como representante dos cidadãos. É isto que ocorre quando se reporta a argumentos tão deprimentes. Seria mais útil se a tal vereadora discursasse contra problemas reais de nosso município como o tráfico de drogas e a violência que cresce a cada dia em nossos bairros, o desemprego e a fome em nossas periferias, o problema do meio ambiente e de infraestrutura, etc.
Pelo baixo nível e a falta de fundamentação no argumento, aquele discurso merece desprezo. Se gasto algum tempo sobre isto é, mormente, em favor dos que creem e foram impiamente agredidos em sua fé: todo estupro é agressivo, inclusive o estupro moral presente naquela fala. Sua generalização é, no mínimo, um desrespeito para com os milhões sacerdotes e pastores sinceros, ilibados e dedicados ao bem das pessoas, em especial as mais necessitadas.
Não se deveria justificar a falta de ética com base em erro alheio como se dissesse: Todo mundo erra, eu também posso errar e aprovar o erro de que eu quero ou então: Se pastores e padres não têm ética, porque nós políticos devemos ter. Imagine se para autodefesa alguém começasse a desfilar erros ou crimes de quem o desafia!?!
O ataque que a Igreja Católica de Uruaçu e do mundo recebeu na tribuna desconhece completamente a atenção que a Igreja vem dando às vitimas do mau comportamento de alguns padres, principalmente atenção psicológico e espiritual, mas não somente. Os apelos à “tolerância zero” para com os “sacerdotes que caíram” são justificados e vem dando resultado, mas também não deveria haver demasiada tolerância jurídica para quem calunia padres inocentes.
Em nosso meio não convém alimentar raiva ou incitar a violência! Não devemos perder tempo desqualificando a oradora quanto à responsabilidade de uma vereança, como algumas informações tristes que me chegaram espontaneamente por mensagens. Não é este meu propósito, nem foi o que aprendi no exercício da fé! Antes, desejo que a autora daquele discurso um dia possa conhecer a Igreja Católica e superar a caricatura que ela descreveu acintosamente em púlpito dia 20 último.
Que ninguém se equivoque interpretando minha reflexão como um juízo sobre uma pessoa... Não conheço a oradora em questão (que deve ter suas virtudes), não sei nem do contexto daquela fala. Por isto me ative ao fato e significado expressos por ela na quarta-feira passada, que chegou a mim.
Deus nos conceda discursos justos, maior união e melhores dias!


Padre Crésio Rodrigues da Silva
Pároco da Paróquia São José Operário e Vigário Judicial da Diocese de Uruaçu

(Transcrito, sem adaptações, da coluna Religião, do Jornal Cidade [Uruaçu-GO], editada por Padre Crésio Rodrigues. Foto: Arquivo JC)

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