Carta aberta à população de Uruaçu e da região
Padre Crésio Rodrigues da Silva
Padre Crésio Rodrigues da Silva
Fiquei surpreso ao ouvir o áudio de uma vereadora denegrindo a imagem da Igreja Católica e de outras religiões na tribuna da Câmara de Uruaçu. O fato me oportuniza fornecer aos interessados algumas informações objetivas e, neste caso, desmentir a referida vereadora que se mostrou ignorante na matéria e irreverente com pessoas que ela não conhece ao generalizar sua afirmação.
A Igreja
não é detentora dos maiores estupradores do Brasil como esta senhora afirma.
Trata-se de uma frase tola, sem embasamento nos fatos, contra os dados
estatísticos e, portanto, falaciosa.
Estatísticas
recentes, feitas pela imprensa, na Itália constataram 0,3% do clero com
denúncia de pedofilia (fonte: site gloria.tv).
Na Alemanha foi ainda menos que 0,2% (fonte: Rodrigues, João Augusto
– jornal O Liberal – Belém, Pedófilos,
quem?). Nos Estados Unidos, as estatísticas possuem mais credibilidade e,
os estudos de Philip Jenkins comprovaram que “a presença de pedófilos é – de
acordo com as denominações –, de duas a dez vezes mais alta entre os pastores
protestantes do que entre os padres católicos”. E que em 42 anos, “as
condenações (de sacerdotes) foram 54, pouco mais de uma por ano. O número de
condenações penais de sacerdotes e religiosos em outros países é semelhante ao
dos EUA” (texto de Máximo Introvigne,
diretor do The Center for Studies on New Religions, publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos e pelo
jornal Avvenire, 18/03/2010).
Sobre o
Brasil? A vereadora não conhece os dados
estatísticos e se deixou levar seja pela propaganda anticatólica ou pelo desejo
fortuito de manchar a honra de pessoas honestas. Os estudos registrados em
nosso país reservam os primeiros lugares de pedofilia para muitas outras
instituições antes de mencionar a Igreja Católica. Isto se lê no Relatório Final da Comissão Parlamentar de
Inquérito de São Paulo, página 27, ao registrar que 75% dos casos de
pedofilia fazem parte do núcleo familiar, sendo que o pai e o padrasto estão no
topo da lista. Esta CPI registra um caso envolvendo políticos e outras
autoridades de Niquelândia-GO (página 1.027).
O site noticias.gospelmais.com.br/casos-pedofilia
afirma: “Aqui tem havido no noticiário da internet muito mais casos de pastores
pedófilos que de seus colegas padres, sem que a grande imprensa dê conta
disto”. E, no Jornal O Liberal,
de Belém: “De qualquer forma, muito maior que
o envolvimento de líderes religiosos (católicos ou protestantes) é, por
exemplo, o de professores de ginástica e treinadores de equipes esportivas
juvenis” (Fonte: Rodrigues, João Augusto, supracitado).
A Igreja
Católica é sistematicamente contra o desrespeito a qualquer pessoa, seja qual
for sua idade, cada ser humano é precioso e inalienável porque resgatado pelo
sacrifício de Jesus Cristo, nosso Senhor.
Segundo o
Relatório Final da CPI nacional sobre pedofilia, o Padre Frederico
Lombardi (porta voz do Vaticano) informou que haviam sacerdotes brasileiros
suspeitos de molestar crianças, os quais estariam sendo investigados pela
cúpula da Igreja... Entre os bispos que informaram a CPI sobre sacerdotes
suspeitos de pedofilia, está o de Penedo-AL, dom Valério Breda (página 1.488).
Emblema
de sacerdote combatente da pedofilia, cito dom José Luiz Azcona, bispo ameaçado
na ilha do Marajó por defender as crianças contra pederastas políticos de alto
escalão e outras autoridades públicas (Relatório Final da CPI, página 1.084ss).
A oradora
não conhece as normas de “tolerância zero” adotadas pelo papa Bento XVI e
reafirmadas pelo papa Francisco para ministros da Igreja Católica que se
envolvem em casos de pedofilia. O rigor disciplinar adotado nos últimos anos
pode ser lido em português sob o título latino Normae de gravioribus
delictis, de 21 de maio de
2010.
O papa
Francisco reforçou o processo disciplinar do clero, através da Pontifícia
Comissão para a tutela dos menores. Em carta aos bispos do mundo inteiro, o
papa reafirma: “Não há lugar algum no ministério para aqueles que abusam de
menores” (Vaticano, 2 de fevereiro de 2015).
A Igreja
não permite que um sacerdote tire a honra de crianças; o que vem ocorrendo
quando, há comprovação de casos, é o afastamento sistemático de sacerdotes no
exercício da função bem como a não obstrução de informações para que a as
autoridades civis atuem em sua competência (Relatório da CPI, página 1.089ss e
1.495).
Não deveria
haver nenhum caso de pederastia entre padres porque isto é vergonhoso,
criminoso e pecaminoso. Contudo é preciso saber que os sacerdotes católicos
envolvidos nisto são quantitativamente poucos comparado aos casos em outras
instituições. Como a Igreja é alvo dos ataques demoníacos, é ela que é posta em
foco.
Por fim,
um juízo de valor sobre a referida locução que me chegou por áudio ontem
(22/04/2016).
É
desolador quando um parlamentar do município ou da nação nivela por baixo os
assuntos de grande responsabilidade que deve tratar como representante dos
cidadãos. É isto que ocorre quando se reporta a argumentos tão deprimentes.
Seria mais útil se a tal vereadora discursasse contra problemas reais de nosso
município como o tráfico de drogas e a violência que cresce a cada dia em
nossos bairros, o desemprego e a fome em nossas periferias, o problema do meio
ambiente e de infraestrutura, etc.
Pelo
baixo nível e a falta de fundamentação no argumento, aquele discurso merece
desprezo. Se gasto algum tempo sobre isto é, mormente, em favor dos que creem e
foram impiamente agredidos em sua fé: todo estupro é agressivo, inclusive o
estupro moral presente naquela fala. Sua generalização é, no mínimo, um
desrespeito para com os milhões sacerdotes e pastores sinceros, ilibados e
dedicados ao bem das pessoas, em especial as mais necessitadas.
Não se
deveria justificar a falta de ética com base em erro alheio como se dissesse: Todo
mundo erra, eu também posso errar e aprovar o erro de que eu quero ou
então: Se pastores e padres não têm ética, porque nós políticos devemos ter.
Imagine se para autodefesa alguém começasse a desfilar erros ou crimes de quem
o desafia!?!
O ataque
que a Igreja Católica de Uruaçu e do mundo recebeu na tribuna desconhece
completamente a atenção que a Igreja vem dando às vitimas do mau comportamento
de alguns padres, principalmente atenção psicológico e espiritual, mas não
somente. Os apelos à “tolerância zero” para com os “sacerdotes que caíram” são
justificados e vem dando resultado, mas também não deveria haver demasiada
tolerância jurídica para quem calunia padres inocentes.
Em nosso
meio não convém alimentar raiva ou incitar a violência! Não devemos perder
tempo desqualificando a oradora quanto à responsabilidade de uma vereança, como
algumas informações tristes que me chegaram espontaneamente por mensagens. Não
é este meu propósito, nem foi o que aprendi no exercício da fé! Antes, desejo
que a autora daquele discurso um dia possa conhecer a Igreja Católica e superar
a caricatura que ela descreveu acintosamente em púlpito dia 20 último.
Que
ninguém se equivoque interpretando minha reflexão como um juízo sobre uma
pessoa... Não conheço a oradora em questão (que deve ter suas virtudes), não
sei nem do contexto daquela fala. Por isto me ative ao fato e significado
expressos por ela na quarta-feira passada, que chegou a mim.
Deus nos conceda discursos justos, maior união e
melhores dias!
Padre Crésio Rodrigues da Silva
Pároco da Paróquia São José Operário e Vigário
Judicial da Diocese de Uruaçu
(Transcrito, sem adaptações, da coluna Religião, do Jornal Cidade [Uruaçu-GO], editada por Padre Crésio Rodrigues. Foto: Arquivo JC)
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