segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Por um ‘rock’ mais Chacrinha e menos MTV

Ritchie: “...Tem artista que nega, mas eu afirmo que sou dos anos 80, tenho orgulho disso”



Sem lançar um disco desde 2002 - o último foi Auto-fidelidade -, e sem estourar nas rádios desde a década de 80, o cantor Ritchie volta a experimentar o gosto de ver seu trabalho chegar ao grande público: sua gravação de Fala, dos Secos e Molhados, faz parte da trilha sonora da novela A Favorita. Ou seja, ouvintes de todas as classes, universo popular... Exatamente como Ritchie acha que deve ser.

“A elitização prejudicou o rock nacional”, defende o músico. “Quando houve a transição do Chacrinha para a MTV, o rock virou coisa de menino rico. Perdeu a veia popular, o que lamento. Foi aí que ele saiu de cena, abrindo espaço para o sertanejo, o pagode. A novela, não a MTV, é a vitrine para se chegar a todas as camadas.”

Pode parecer ressentimento de quem está fora da MTV e dentro da novela. Mas, aos 56 anos, Ritchie fala com tranqüilidade sobre sua situação no cenário musical brasileiro. Diz não ser um artista de muitos shows, mas conta empolgado ter tocado para 11 mil pessoas em Olinda-PE, em julho, num show temático sobre os anos 80. E, este ano, comemora um feito raro: o disco de estréia, Vôo de coração, completa 25 anos em catálogo, ou seja, disponível nas lojas. Segundo a gravadora Sony&BMG, hoje, o CD - um fenômeno que vendeu mais de um milhão de cópias no ano de lançamento, puxado por Menina veneno - mantém vendagem de 300 cópias por mês.

“Estou negociando com a Sony a remasterização do disco, que deve ser lançado até o fim do ano”, conta Ritchie. “A idéia é termos uma edição de luxo, com extras e a participação de pessoas que estiveram no original, como [o letrista] Bernardo Vilhena, [o produtor] Carlão e [o fotógrafo] Milton Montenegro, que fez a capa.”

Em breve, Ritchie poderá ser ouvido em outra novela. O SBT pediu autorização para usar Tudo que eu quero na trilha do folhetim Revelação. Nesse caso, a canção foi estrategicamente apresentada à emissora. Mas, em A Favorita, Ritchie explica, a inclusão da música foi espontânea: “Não houve nenhum esforço ou ‘lobby’ da minha parte. Fui surpreendido e, quando liguei para agradecer a Mariozinho Rocha, ele me explicou que escolheu a música por ter tudo a ver com o personagem [Augusto, de José Mayer].”

Curiosamente, Ritchie consegue emplacar músicas em novelas com facilidade quando está sem gravadora. Foi o que aconteceu em Cara & Coroa (95/96) e Agora É Que São Elas (2003). “Acredito que isso acontece porque, quando estou independente, cai um véu, fica só música. E há uma empatia entre meu trabalho e esse público das novelas.”

O cantor pretende inaugurar o próximo ciclo no ano que vem, com o lançamento de um álbum de inéditas, com parcerias com Arnaldo Antunes, Fausto Nilo, Alvin L., Leoni e Bernardo Vilhena. Completar sete anos sem lançar um CD não incomoda Ritchie.

“Não quero lançar um disco ruim todo ano, só pela obrigação de lançar. Eu espero ter algo a dizer. Como diz a canção, ‘eu só vou falar na hora de falar’” - diz, citando a letra de Fala.

No período entre discos, ele participou de um DVD com artistas dos anos 80 e vem fazendo shows para esse público.

“Enquanto estão felizes com a gente, ótimo. Estamos aqui para entreter. Chega uma hora em que temos que vestir a carapuça. Tem artista que nega, mas eu afirmo que sou dos anos 80, tenho orgulho disso” - argumenta, lembrando Menina veneno [nota do Blog do JC]: o maior sucesso do cantor]. “Foi um momento no qual consegui sintonizar a freqüência nacional, acertamos a veia do País. E sem esquemas. A canção foi mandada para as rádios em fita de rolo, porque a gravadora não quis arcar os custos da prensagem do disco. Era muito arriscado um gringo cantando em português. Hoje as pessoas me vêem falar que ficavam passeando pelo dial, ouvindo ‘Menina veneno’ o dia inteiro. E houve casais que se conheceram por causa da música...”. Isso é tudo para um artista pop.

Puro Chacrinha.

Nascido Richard David Court, em Beckenham, condado de Kent - Sul da Inglaterra, em 6 de março de 52, Ritchie iniciou a carreira musical como flautista. “Em 1972, larguei os estudos para tocar flauta numa banda iniciante de Londres chamada Everyone Involved com mais de 20 integrantes”, narra ele (que chegou ao Brasil no final de 72), no seu bom site (Da Redação - Transcrito do jornal Diário da Manhã [Goiânia-GO]/agência O GLOBO [Rio de Janeiro-RJ] - Leonardo Lichote, com adaptações, de 9 de agosto de 2008 - Foto: www.ritchie.com.br).

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