Prato de Maria Sônia, moradora de Uruaçu, degustado no feriadão de 15 de novembro – Foto: Antônio Valdson |
Recepção de Raquel Teixeira aos alunos e ao professor (esq.), em Goiânia – Foto: Seduce/Divulgação |
“Foi uma experiência única”, disse o
professor de Iniciação Científica, Matheus Fernando da Silva, orientador do
projeto, que viajou junto com os alunos. O mais importante foi expandir ao
pensamento deles e dos que estão lá na escola mandando mensagens empolgadas
para a gente continuar desenvolvendo projetos desse tipo. Eles tiveram a
oportunidade de conhecer um mundo novo, conhecer um novo país, aprender a falar
uma nova língua e voltaram, acredito eu, diferentes”, completou.
“Nessa manhã de feriado chuvoso em Goiânia,
gostoso para ficar na cama, o que me inspira, me move e me alimenta é poder
receber esses alunos brilhantes, que nos representaram tão bem na Costa Rica”,
disse Raquel Teixeira. “Continuem pesquisando, buscando e aprendendo”,
comemorou.
Os alunos foram aplaudidos pelos demais
passageiros no desembarque e disseram que a experiência foi muito empolgante.
“Acho que nunca vou me esquecer”, comentou Lucas. “Nosso estande era o mais
lotado”, entusiasmou-se Gabriel. Eles também foram recepcionados pelo professor
de matemática Leizzer Vieria Duarte. “Esta turma está quebrando tabus, estamos
todos muito orgulhosos”, disse o professor encarregado pela Subsecretaria
Regional de Rubiataba de levá-los de volta ao município.
Inglaterra
A iniciativa dos alunos da rede pública
estadual de Goiás foi a única selecionada do Centro-Oeste brasileiro para
participar da Expo Ingeniería. O
estande dos goianos atraiu as atenções e os garotos impressionaram a
organização do evento por apresentar o projeto em espanhol. Aspirante a
cientista, a turma garantiu vaga para demonstrar o estudo em outro renomado
evento internacional, o London
International Youth Science Forum, realizado na Inglaterra. Aguarda
apenas a chegada do convite oficial. O objetivo do grupo agora é produzir o
alimento alternativo em quantidade suficiente para doar à comunidade.
Saiba
sobre a entomofagia
De acordo com o Matheus, o estudo sobre a
inclusão de insetos na alimentação surgiu por causa de uma região carente de
Rubiataba. “Fizemos questionários socioeconômicos e descobrimos que a maioria
das famílias consome carne três vezes por semana. Então estamos tentando criar
uma alternativa mais econômica para suprir o fornecimento de proteínas”, disse
Matheus.
Muito comum em alguns países da Ásia e da
África, a entomofagia está sendo estudada na escola do interior de Goiás desde
o começo do ano. Uma sala foi reservada para a criação de insetos das espécies Tenebrio molitor sp. e Zophobas morio sp. “Acompanhamos
toda a sua evolução: primeiro ovo, depois larva, pupa e besouro. O caso mais
indicado para alimentação é a larva, que pode conter até 70% a mais de proteína
que o frango, por exemplo”.
Os alunos Gabriel e Lucas, junto a outros
colegas de turma, são responsáveis pela manutenção do criadouro. Periodicamente
eles verificam se há comida (batata, aveia e trigo) suficiente para as larvas,
entre outras atividades. Os bichos ficam armazenados dentro de caixas de
plástico ou papelão. Quando atinge a condição de larva, a iguaria geralmente é
consumida viva ou assada. Também acompanha os mais diversos pratos doces ou
salgados.
Professor Matheus disse que a produção dos
insetos já é um sucesso. O próximo passo agora é trabalhar na ruptura cultural
das pessoas, fazendo com que a entomofagia seja encarada com naturalidade. “A
aceitação dos adultos ainda é baixa. Já entre as crianças, especialmente os
alunos do colégio, é quase 100%. Os estudantes vivem atrás de mim querendo
comer”, explica.
Expo
Ingeniería
O evento existe desde 2008 e é uma iniciativa
do Ministério da Ciência e Tecnologia da Costa Rica.
A Expo Ingeniería reúne estudantes da América
do Sul e América Central, com o objetivo de promover o desenvolvimento de
habilidades, despertar o interesse dos adolescentes e jovens por estudos e
pesquisas.
Uruaçu
Iguarias gastronômicas desse naipe, em geral não
são tão comuns realmente e, de fato, a cultura brasileira quanto ao assunto ainda
não é popular, conforme observa Professor Matheus, de Rubiataba.
Em postagem de 16 de novembro no Facebook, o
comerciante Antônio Valdson (proprietário da RCN Radiadores, sediada em Uruaçu),
apresentou um prato contendo dezenas de bundas de formigas tanajuras. Falando
ao Jornal Cidade, ele informou
que a esposa Maria Sônia preparou o prato no pequeno sítio deles, situado às
margens do lago Serra da Mesa e que o produto foi capturado no interior da própria
área rural.
Nesta época do ano é quando, em grau maior, as
também chamadas içás deixam seus sauveiros e em voo (considerado mortal) na
direção dos machos, acasalam-se e dão origem a nova colônia.
Comentando ser mais gostoso comer o inseto na
opção farofa, o mesmo narrou que foi bem preparado e que degustou
tranquilamente. “Minha esposa é do Mato Grosso e lá isso é comum”.
Morador do interior paulista, Mauricio Lopes
comentou na postagem do apelidado Valdson Cumpadi: ‘Aqui na minha região isso é
chamado de içá e é um dos pratos mais caros. Um prato de farofa com esse
acompanhamento chega a custar 150 reais. Eu nunca tive coragem de comer’.
Sódio,
potássio, ferro e cálcio...
Em 2015, a revista Globo Rural, da Editora Globo S.A., publicou reportagem focando
a temática, com o título Aperitivo de
formiga, destacando que a ‘espécie de formiga tanajura é uma fina iguaria
da culinária cabocla, servida torrada e consumida como se fosse amendoim’.
Confira a reportagem (transcrita integralmente), assinada por Gustavo Laredo:
Quando o padre Anchieta chegou ao Brasil, um
hábito curioso dos índios lhe chamou a atenção: em determinada época do ano, os
nativos ficavam ansiosos para colher, aos saltos, ‘frutos’ que vinham do céu.
Corriam alegres e enchiam vasos e mais vasos desse alimento que, torrado como
amendoim, provocava verdadeiro deleite em toda a tribo e até nos homens brancos
que o provavam. Os ‘frutos’, na verdade, eram formigas de abdômen avantajado,
conhecidas por muitos como tanajuras ou içás. Segundo uma lenda indígena, foi
uma cobra pequena quem ensinou aos índios consumir esse inseto. Certo dia, eles
viram o réptil comendo a saúva, experimentaram e perceberam o quanto era
gostoso.
De fato, o gosto da tanajura lembra muito o
do camarão. No entanto, não é somente o sabor que faz desse inseto um prato
bastante apreciado pelos índios e também pelos caboclos das regiões rurais do
Brasil. A ‘carne’ da içá tem alto valor protéico. Segundo o biólogo Eraldo
Medeiros Costa Neto, da Universidade Estadual de Feira de Santana, BA, as
formigas da espécie Atta cephalotes, por exemplo, contém aproximadamente 44% de
proteínas. Já a carne de frango e a de boi possuem 23% e 20%, respectivamente.
Esses insetos são também ricos em sódio, potássio, ferro e cálcio. Além da Atta
sexdens e da A. cephalotes, outras formigas bastante consumidas no país são: A.
laevigata, A. bisphaerica, A. opacipes e A. capiguara.
Uma iguaria como essa tem seus diversos modos
de preparo. Um deles, o mais comum, é torrar a formiga com óleo e sal como se
fosse amendoim. Outra forma de preparar esse maná caboclo é separar as pernas,
a cabeça, e misturar o abdômen com alho, farinha de mandioca e levar tudo ao
fogo até formar uma paçoca. Em Santa Isabel, SP, há quem coloque tanajuras em
garrafas com cachaça para deixar a bebida com gosto de mel.
(Informações: Comunicação Setorial da Seduce. Com Redação e revista Globo Rural)
Nenhum comentário:
Postar um comentário